Judith Butler veio palestrar em nosso país e encontrou dificuldades de se apresentar. Tentaram censurá-la, inclusive. Atearam fogo em uma boneca que continha sua máscara, numa assustadora alusão de queima às bruxas. Foi agredida no aeroporto. Butler esteve no Brasil em 2015 e passou quase até desapercebida. O que aconteceu em nosso país afinal, nesse período de dois anos apenas
Ela, filósofa, referência em estudos sobre gênero, feminismo e teoria queer, autora de 15 livros (lembrando que não é a inventora do gênero como construção social), apesar de toda a polêmica envolvida, ficou dessa vez, apenas em palestras sobre os conflitos entre Israel e Palestina. Ou seja, todo o “barulho” promovido pela sua vinda, sobre o receio acerca da discussão sobre gênero, foi em vão. O Brasil, um país culturalmente machista e patriarcal, está passando por um movimento retrógrado relacionado à diversas frentes. Um movimento fundamentalista vem tomando corpo e se tornando assustador, a ponto de estarmos assistindo censura das mais variadas formas, como recentemente aconteceu nos museus.
A “Ideologia de Gênero”, termo tão discutido recentemente nas redes sociais e tão execrado pelos extremistas de plantão, foi falado pela socióloga Heleieth Safiotti, que em sua obra “Gênero, Patriarcado, Violência”, faz uma crítica ao uso demasiado de “gênero” (que não é um conceito neutro) em detrimento do “patriarcado”. A “ideologia” para Safiotti, seria a ideologia patriarcal, que vem para acobertar o uso das estruturas de poder dos homens sobre as mulheres até nos dias de hoje.
A apropriação inadequada do conceito “Ideologia de Gênero” vem servindo para amedrontar as pessoas e assim alcançar um posicionamento máximo contrário a discussão sobre gênero e orientação sexual, extremamente importante no Brasil. Esse receio dos brasileiros, segundo a própria Butler, seria pelo medo de mudanças (uma vez que nem todos nasceram para reproduzir a formação de uma família com filhos e casais heterossexuais). As pessoas contrárias a todo esse debate, acreditam que é função da família (tradicional né?) falar sobre gênero com seus filhos.
Mas será que se isso funcionasse, nosso país estaria com altos índices contrários à essa perspectiva de formação familiar e educação sexual? Não é a informação em relação aos conceitos que diminui preconceitos e aumenta a tolerância? Podemos citar alguns exemplos desses alarmantes indicadores:
- A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada ;
- É o país que mais mata travestis e transexuais;
- Ocupa atualmente a 5ª colocação em feminicídio no mundo;
- A cada hora, 503 mulheres são vítimas de violência física no país;
- As principais vítimas de bullying e discriminação nas escolas são homossexuais.
Avanço da educação sexual?
Pensando no futuro da Educação; não deveríamos estar avançando nas questões de gênero e de orientação sexual? Avançando na educação sexual? Avançando na questão dos direitos de todos e para todos? Trabalhando a dificuldade em aceitar o que não está no “padrão”? Padrão este, relacionado ao que é construído socialmente, não devemos nos esquecer, em uma sociedade marcada historicamente pelas relações de preconceito às minorias e à diversidade.
A Educação precisa ter políticas e planos voltados para essas questões, formação dos professores e assim transformar essa realidade, tornando o país livre do machismo, da misoginia e da homofobia. Afinal, é dever da Educação colaborar para a formação de cidadãos mais tolerantes, conscientes e contribuir para uma sociedade mais justa e mais igualitária.
Uma surpresa boa, pelo menos, é saber que a juventude tem se mostrado contrária a esses posicionamentos conservadores e demonstra interesse em conversar, dialogar sobre a educação sexual! Isso nos dá ânimo e fôlego para acreditar que é possível combater essas concepções reacionárias.
Desculpa, Judith! Espero que em breve, o Brasil receba você de braços “e cabeça” mais abertos!
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Imagem: odia.ig.com