Recentemente fui questionada pelo site vice.com, sobre o que falar com adolescentes sobre sexo. Respondi que a abordagem deve ser mais ampla, ou seja, devemos falar sobre sexualidade.
A palavra “sexo” refere-se à atividade sexual. Já “sexualidade” refere-se à energia que nos move em busca do afeto e da forma como nos relacionamos com as pessoas. Assim, torna-se muito mais interessante, pois podemos conectar o tema com sentimentos, namoro, desejo, medos, dúvidas, expectativas e frustrações.
Antes de falar, é preciso perguntar e ouvir com respeito e empatia as questões que os adolescentes nos trazem.
Falar sobre métodos contraceptivos e sexo seguro é necessário. Porém, ao meu ver, é chover no molhado. Afinal, eles já estão cansados de ouvir isso na escola, em casa e até através dos meios de comunicação.
Daí vem a pergunta: Então por que tantos jovens são surpreendidos pela gravidez precoce? Por que eles se expõe ao risco de contrair uma infecção sexualmente transmissível?
A maioria dos responsáveis (sejam esses pais ou escolas) só se dão conta de falar do assunto quando, a grande maioria, deles já teve algum contato com o assunto de forma distorcida. E o mais grave é que quando falam, essa abordagem é permeada pelo medo ou pela noção de proibido, errado ou pecado.
Para muitos adultos, é muito difícil falar sobre sexualidade com crianças e adolescentes, primeiro porque a maioria não lida bem com a própria sexualidade. E segundo, porque acreditam que esse assunto não se ensina.
Então o que fazer e sobre o que falar com adolescentes sobre sexualidade?
A resposta é simples! Falta falar sobre afeto, sobre autoestima e prazer.
Sobre afeto e autoestima, devemos falar desde muito cedo com as crianças, para construirmos uma ponte de respeito e confiança. Assim, teremos o caminho aberto para que elas possam falar sobre o que lhes geram dúvidas ou angústias. E para construção dessa ponte, os adultos precisam ser empáticos e deixar o canal de comunicação aberto com elas.
Negar os prazeres da vida em seus mais simples aspectos na tentativa de protegê-los, é negar a natureza do desenvolvimento humano. Negando o prazer, permitimos que os adolescentes se exponham ao risco da experimentação inconsequente. Não podemos fechar os olhos para uma verdade: Adolescentes vivem a busca pelo prazer!
Um exemplo para entender essa questão é o fato de que muitos jovens não usam preservativo na primeira transa. Não é porque não sabem dos riscos!
Muitos meninos não sabem em que momento devem colocar o preservativo. Outros têm medo de broxar, ou ficam tão ansiosos que rasgam o preservativo e não tem outro. Ainda tem aqueles que acham que a camisinha tira a sensibilidade, ou acreditam que com eles nada vai acontecer. Ou porque acham que na primeira vez não existe risco algum.
As meninas, são ainda mais vulneráveis à essa situação, porque a maioria nunca pegou uma camisinha masculina nem feminina na mão. Muitas não sabem dizer “não”. Outras também acreditam que na primeira vez não há riscos. Ainda há aquelas que acreditam que a responsabilidade com o preservativo é do menino. É comum que algumas meninas se sintam envergonhadas de abrir a bolsa e pegar uma camisinha com medo do que os meninos possam pensar delas.
Ou seja, estão totalmente despreparados emocionalmente e sem ter com quem falar sobre todas essas questões. Porque em casa não podem falar e na escola só se fala sobre o aparelho reprodutor, sobre doenças e métodos contraceptivos. Dificilmente há espaço para os sentimentos.
O diálogo é a saída
Tudo isso seria simplificado se pais, mães e escola falassem sobre autoestima, sobre o namoro, sobre o desejo, o prazer, sobre a ansiedade natural da primeira transa, sobre a importância de dizer “não”, sobre os sonhos… Ao invés de fecharem os olhos para o desenvolvimento dos adolescentes.
É muito mais seguro e assertivo ensinar meninas e meninos a manusearem um preservativo. Assim, eles terão familiaridade e saberão como usar na hora H. O que é muito melhor do que lidar com as consequências do sexo inseguro e irresponsável.
Precisamos ouvir mais e entender mais. Sabemos que as experiências sexuais estão acontecendo cada vez mais cedo entre os jovens e que por mais difícil que seja para os pais, a responsabilidade de falar sobre sexualidade, amor e autoestima é deles.
Jovens que são bem resolvidos com seus sentimentos, certamente serão mais responsáveis e felizes em suas experiências.
#talkB4
Texto escrito por Joana Moraes