Às vezes eu me pego lembrando da minha infância e me recordo de muitos fatos e memórias próximos aos dois anos. Sempre gostei dessa retrospectiva pois antes me fazia enxergar o lado das crianças. Hoje amo pois me faz enxergar o lado da minha filha, principalmente quando o assunto trata da separação dos pais.

Por isso, fico bem tranquila para responder minha filha quando ela pergunta:

Porque você não dorme na casa do papai?

Se você está separado do pai ou da mãe dos seus filhos talvez já tenha passado por  essa situação. As crianças perguntam, e, como as habilidades sociais ainda não estão completamente desenvolvidas, elas perguntam na hora que tem vontade, sem analisar quem está por perto ou onde estamos. Pode ser que você pense: ‘Será que elas fazem isso de propósito?’  Como me recordo da minha própria infância e baseada em estudos de neurociências sei muito bem que a resposta é NÃO. As crianças não fazem perguntas com o fim de constranger os pais.

Lembro que quando tinha oito anos já perguntava para a minha mãe se ela se lembrava de quando era criança.

–  O quê?  – ela me perguntava.

–  Como você se sentia quando passava a aula inteira esperando sua mãe chegar para te buscar e  quem vinha te buscar era outra pessoa?

–  Não lembro – ela me dizia.

–  Já eu lembro, eu só queria te abraçar pois ficava com saudades. E você não chegava. Era sempre outra pessoa. Por isso eu chorava e não queria ir embora da escola com outra pessoa – eu a respondi.

Mas qual a relação disso com perguntar sobre dormir na casa do pai?

A criança só quer ter as duas pessoas que ela mais ama juntinho dela. Ela não compreende que as vezes não conseguimos mais conviver um com o outro. Eu sei que pode ter acontecido muita dor nessa relação e na separação.  Mas isso não é responsabilidade da criança. Isso é coisa dos adultos resolverem.

A minha política é de sempre destacar os pontos positivos do pai para a minha filha. Digo em primeiro lugar que entendo que ela queira todos juntos e confirmo: ‘É isso mesmo?’ Assim, contribuo para que ela compreenda os seus próprios sentimentos.

Então digo que sei que ela ama o papai e a mamãe e que o papai é muito divertido, eles se divertem muito juntos. A partir daí deixo bem claro que tanto eu quanto o papai a amamos muito, tanto que palavras nem podem explicar. E que só não somos mais um casal, o que não interfere em nada no nosso amor por ela. Que tudo bem estarmos juntos nas festas da escola e em outros eventos. Destaco sempre o que podemos fazer juntos.

As crianças muitas vezes pensam que a separação dos pais aconteceu por causa delas ou que de alguma forma o amor por elas desapareceu.  

Por isso é imprescindível reforçar que, mesmo não estando juntos, os pais a amam. É claro que isso é reforçado no dia a dia, e não apenas nesses momentos.  Entendo que é super importante não atacar a imagem do outro porque essa criança somente existe porque os dois um dia estiveram juntos. Se a outra parte não representa ameaça para a criança, entendo que a felicidade dela é mais importante que satisfazer o ego com algum desejo de vingança ou desdém.

Como você enxerga as perguntas dx seu/sua filhx?  Você compreende que criança enxerga o mundo de uma maneira distinta dos adultos? Ela faz perguntas apenas para satisfazer um anseio latente. Lembre-se que a criança não tem todas as experiências de um adulto para analisar outros fatores.

Por isso veja o que seu filho pergunta com olhos de criança e responda da melhor forma para a criança. Respire fundo e seja consciente, a criança só precisa entender duas coisas: ela é amada e os pais não são um casal.  Saber que ela é muuuito amada já  minimiza bastante o sentimento de abandono que paira sobre os pequenos em situações de separação.

Se estiver muito desafiador passar pelo processo sozinhx lembre que você sempre pode pedir ajuda. Pode ser um terapeuta, um livro um médico, só não permita que a situação gere problemas mais estressantes que o necessário.